9.24.2010

Diana Andringa - Primeira Convidada das Conferências da Imprensa

Diana Andringa é uma das mais importantes repórteres portuguesas depois do fim da ditadura, em Abril de 1974, contra a qual se bateu e por ela chegou a estar presa.

Natural da província angolana de Lunda Norte, onde nasceu a 21 de Agosto de 1947, Diana Marina Dias Andringa iniciou os estudos superiores, em 1964, na Universidade de Lisboa. Um ano depois trocava o curso de Medicina pelo jornalismo, vindo a iniciar-se, profissionalmente, nos vespertinos, Diário Popular e Diário de Lisboa, do qual, aliás, viria muito mais tarde, no início dos anos 90, a ser sub-directora.

Em 1968 tornou-se redactora da revista Vida Mundial, da qual acabou por sair no âmbito de uma demissão colectiva. Ainda trabalhou como copyrighter numa agência de publicidade antes de ser presa pela PIDE em 1970. Em Setembro de 71 é libertada e regressa ao jornalismo. No ano seguinte, parte para França, onde acaba por cursar Sociologia na Universidade de Vincennes, Paris. Regressa em 1974, sendo novamente redactora da revista Vida Mundial. Em 1978, no mesmo ano em que produz, com Alfredo Caldeira, a série “Sol a Sol”, sobre trabalhadores portugueses que representavam diversas regiões do país, Diana Andringa entra para a Rádio e Televisão de Portugal, fixando-se na mesma até 2001.

Durante o período em que Diana Andringa esteve na RTP, trabalhou em programas como “Zoom”, “Grande Reportagem”, “Projectos Especiais” ou “Documentais e Eruditos”. E foi no âmbito do trabalho na área internacional que Diana Andringa realizou várias entrevistas com personalidades da literatura e da política como o escritor Jorge Luis Borges ou o antigo Secretário-Geral da ONU, Kurt Waldheim.

Nos anos oitenta a jornalista elaborou várias reportagens e documentários, dos quais se pode destacar o documentário “Goa, 20 anos depois” e a série de reportagens “Iraque, o país dos dois rios”, com a qual arrecadou o prémio Nova Gente. Entre 1989 e 1992, Diana Andringa  produziu uma série de 6 programas sobre a “Geração de 60” em Portugal, onde registou os aspectos políticos que marcaram essa geração. No ano seguinte reporta o caso da violação de uma luso-americana por quatro imigrantes portugueses na cidade americana de New Bedford em “O Caso Big Dan’s. Violação numa comunidade portuguesa”, trabalho pelo qual a jornalista viria a receber o Prémio de Reportagem Televisiva do Clube Português de Jornalistas. No campo da reportagem, é de destacar, ainda, os trabalhos que realizou com refugiados em vários campos espalhados pelo mundo.

Durante a década de 90 do século passado, Diana Andringa assinou a realização de vários documentários direccionados para personalidades da literatura portuguesa, como “Vergílio Ferreira: retrato à minuta” (1996), “Rómulo de Carvalho e o seu amigo António Gedeão” (1996) ou “Jorge de Sena: uma fiel dedicação à honra de estar vivo” (1997). No programa “Sinais do Tempo”, Diana Andringa entrevistou personalidades como o jornalista Ignacio Ramonet ou o especialista em informação Dominique Wolton.

Durante o tempo em que permaneceu na RTP, Diana Andringa assumiu vários cargos de relevância: entre 1995 e 98 foi membro do Conselho de Opinião, entre 1998 e 2000 foi Subdirectora de Actualidades da RTP e, entre 2000 e 2001, foi Subdirectora da RTP2.

Como jornalista activa que nunca separou a função profissional da função cívica e de participação, Diana Andringa foi a primeira mulher a presidir ao Sindicato dos Jornalistas Portugueses, cargo que desempenhou entre 1996 e 1998. De 98 a 2001 presidiu à Mesa da Assembleia-geral do mesmo Sindicato. Como corolário da sua intensa actividade cívica e reconhecimento profissional, foi-lhe atribuída a distinção de Comendadora da Ordem do Infante e membro do Conselho da mesma Ordem.

No presente ano de 2010, Diana Andringa foi responsável pela produção do documentário “Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta”, onde, através de depoimentos de sobreviventes, é revelado um campo atroz e de extrema dureza em que trinta e seis pessoas morreram e muitas dezenas foram torturadas, durante a ditadura salazarista

O percurso profissional de Diana Andringa revela-nos uma jornalista que entende a informação como um bem público e, nessa medida, considera que ela é para ser partilhada. Tal atitude leva-a a dizer, por outro lado e sem o menor equívoco, que não acredita na imparcialidade jornalística, a qual, de resto, nem sequer defende. Acredita, sim, na honestidade dos processos e na lealdade que deve aos destinatários da informação que produz. Um jornalista inteiro e completo, nas palavras e no pensamento de Diana Andringa, é aquele que nunca cala a injustiça e jamais cruza os braços perante as iniquidades, a desgraça, a exploração.

Em todos os trabalhos de Diana Andringa conseguimos ver, como dizia Kapuzcinski, que "o verdadeiro jornalismo é o intencional, ou seja, o que tem uma finalidade e que visa produzir algum tipo de mudança".

As reportagens de Diana Andringa, narradas pela sua voz tensa e rouca, incomodam-nos sempre, tocam-nos na alma e por isso nunca ficamos indiferentes a elas.

Outros links:


http://caminhosdamemoria.wordpress.com/

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